Pessoal, quero compartilhar um pouco do trabalho do Gerhard Richter, pintor alemão contemporâneo pelo qual eu sou apaixonada e que norteou muito da minha produção tanto em foto quanto em pintura. Como base eu uso um trabalho meu pra faculdade de 2008 sobre ele e Anselm Kiefer (outro que vale a pena conhecer) e a relação deles com a situação artística da Alemanha pós 2ª Guerra, mas no final eu coloco uma bibliografia direitinho.
Richter nasceu em 1932 e até boa parte da sua juventude viveu no lado da Alemanha Oriental, sendo que dois anos antes do Muro de Berlim ele passa pro lado Ocidental, onde sua formação artística foi toda orientada através do realismo socialista (Miguel Chaia falou um pouco sobre isso http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=403 ) . Nessa época de formação, ele entrou em contato tanto com a questão da técnica tradicional, à maneira dos grandes pintores alemães do Romantismo, como Caspar David Friedrich (http://www.caspardavidfriedrich.org/) quanto com o legado antiarte do Dada e do Fluxus (http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3652).
De maneira geral, a pesquisa que delineia toda a sua produção é sobre a relação entre arte e fotografia na contemporaneidade. A fotografia, meio de massa como o jornal ou a TV, constitui a forma dominante da cultura visual da nossa sociedade, é vista também como usurpadora de muitas funções tradicionais da arte. Richter lida com o fato da qualidade da experiência ser sempre mediada na sociedade contemporânea, de como a pintura pode se encaixar nesse contexto, de como lidar com uma necessidade de continuar pintando durante os anos 60, quando a pintura parecia impossível.
“A fotografia pegou o lugar de todas as pinturas, desenhos e ilustrações que serviam para prover informações sobre a realidade que elas representavam. A fotografia fazia isso de maneira mais verdadeira e com maior credibilidade do que qualquer pintura. É a única forma de imagem que diz absolutamente a verdade, porque vê objetivamente. Ao mesmo tempo, a fotografia ganhou uma função religiosa. Todos produzem suas próprias imagens devocionais, de pessoas queridas, família e amigos. A fotografia alterou as maneiras de ver e de pensar. Elas eram vistas como a verdade, a pintura, como o artificial. A imagem pintada não tinha mais credibilidade. As fotografias são as imagens efêmeras da comunicação da vida – como as imagens que eu pinto a partir de fotos. Sendo pintadas, elas não mais comunicam uma situação específica, e a representação se torna absurda. Como pintura, ela muda tanto o sentido como o conteúdo da informação. A fotografia é a imagem mais perfeita. Ela não muda, é absoluta e autônoma, incondicional, sem estilo. Tanto a maneira que ela informa e o que ela informa são a minha fonte. Sabe o que é ótimo? Descobrir que uma coisa estúpida e ridícula como copiar um postal pode ser visto como algo pictórico. Então ter a liberdade de pintar o que você quiser. Não ter que inventar nada nunca mais, esquecer tudo o que se quis dizer por pintura, cor, composição, espaço e todas as coisas que você conhecia e pensava. De repente, nada disso era uma necessidade prioritária para a arte.”
Para Richter, o objeto escolhido é o de menos, utiliza o anonimato e a casualidade das banais fotografias familiares. Ele vê o mundo como uma fotografia, como se a existência dos objetos dependesse da existência da fotografia deles. Freqüentemente borra e embaça as imagens, eliminando qualquer influência de estilo, de composição, de sentimento pessoal, fazendo com que todas as partes do quadro sejam equivalentes e anônimas.
“Não se pode acreditar na imagem que vemos da realidade, porque há outros elementos que modificam essa imagem. Precisamente porque isso não nos basta, porque sentimos curiosidade para ver se tudo pode ser diferente, pintamos. O que consideramos e chamamos de realidade é algo bastante inseguro.”
http://findarticles.com/p/articles/mi_m1248/is_1_90/ai_82012868 - Robert Storr interview Gerhard Richter.
http://www.gerhard-richter.com
HARRISON, Charles; WOOD, Paul. Art In Theory. United States: Blackwell Publishing, 2003.
SAGER, Peter. Nuevas Formas de Realismo. Madrid: Alianza, 1986.
Gerhard Richter. London: Tate Gallery, 1991.
Yule.
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