terça-feira, 15 de junho de 2010

Albano Afonso

Albano Afonso (São Paulo, 1964). Vive e trabalha em São Paulo.

Estudou na FAAM, em São Paulo. Cria instalações e fotografias, nas quais mistura impressões fotográficas com imagens projetadas no espaço. A partir de um “desenho” gerado por um jogo de luzes e espelhos, cria uma fotografia descarnada: o instante fotográfico retorna ao seu estágio inicial de idéia. A luz é a matéria com que Albano Afonso enlaça a História, os mitos, as representações de obras dos grandes mestres da pintura.

"(...) Albano é um artista singular, isolado de grupos, tendências e destaques que dominam o cenário da arte contemporânea brasileira. Seu trabalho, aparentemente eclético e volúvel, é de fato fruto de uma metódica e rigorosa experimentação envolvendo as várias instâncias da atividade artística. Este processo gera um interessante e permanente questionamento não só das referências provenientes do universo da arte como também das propriedades do pensar e do fazer relativas à produção do artista. A impressão que se tem é a de um trabalho sem descanso, uma pesquisa que pretende, antes de mais nada, estabelecer suas próprias regras. Talvez, para outros, esta condição seja interpretada como uma obra 'sem resolução'. No entanto, o convívio com a obra e com o processo criativo do artista refutam qualquer idéia de falta de desígnio. Pelo contrário, Albano desenvolve uma arte teórica. Esta afirmação se faz após a dica de minha filha, que aventou relações entre a obra vista no atelier do artista com aquela que está consagrada no museu. Cabe lembrar que a pintura de Balla [referência ao pintor italiano Giacomo Balla 1874-1958] advém de uma produção anterior, de base científica, dos artistas franceses Seurat e Signac, conhecida como 'Neo-Impressionista', um momento singular na produção germinal do Modernismo. (...) Tendo como referência esse cenário histórico, considera-se que a obra de Albano instaura uma predisposição teórica em um panorama pontuado por atuações sensorias e subjetivas promovidas por certas produções artísticas contemporâneas em nosso meio (justificadas, em grande parte e em excesso, pela disseminação global da dupla Clark e Oiticica). Uma das táticas empregadas por Albano na promoção de um atuar teórico é a da apropriação dos meios sem necessariamente usufruir de seus pressupostos e assim do 'conforto' do já estabelecido. Assim sendo, Albano, não faz uso da pintura como suporte do expressar subjetivo ou como superfície para uma afirmação da especificidade ou materialidade do meio. Suas pinturas da primeira metade dessa década, por exemplo, são elaboradas por um método no qual o gesto é homogeneizado por gabaritos (máscaras) que controlam a dimensão e a densidade dos campos de cor. (...) O desenho também foge ao lugar-comum pois não é tido apenas como anotação. Ele é, pelo contrário, incisivo (decisivo, pronto, direto, sem rodeios e também cortante), ou seja, o desenho também planeja e designa. A afirmação do desenho como demarcador dos campos de atuação do olhar está patente em sua trajetória nesses últimos anos. (...) O artista coloca os pressupostos da arte em suspensão ou até mesmo em contradição para então desenvolver a sua pesquisa, ou melhor, o seu preceito (regra de proceder, norma). (...) Ao que tudo indica, a arte para Albano é algo ainda inexeqüível, cabe a ele então, como artista, a tarefa de fundar os procedimentos e as regras de uma arte em devir. Trata-se de uma atitude nobre, antes de mais nada, ética, pois muito do que se produz hoje em nome da arte é mera pretensão. Na maioria dos casos, a suposta arte ignora simplesmente a imprescindibilidade de preceitos. Nesses casos fica apenas o impacto, a pretensa singularidade, a efemeridade. Talvez a verdadeira arte seja aquela que está sempre em devir".

Martin Grossmann

PANORAMA de arte brasileira 99. São Paulo: MAM, 1999. p. 190.

Imagens http://www.inhotim.org.br/arte/obra/filtra/artista/92

Imagens e textos críticos http://www.casatriangulo.com/site.htm


Só uma curiosidade: o Albano é casado com a também artista plástica Sandra Cinto (que seu eu não me engano já participou de Bienais passadas - ou pelo menos de alguma Paralela), eu sou apaixonada pelo trabalho dela, quem tiver curiosidade no Google tem bastante imagens de trabalhos dela.

Yule


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