sexta-feira, 4 de junho de 2010

ARTE CONCEITUAL


O termo Arte Conceitual se popularizou em 1967 depois que a revista americana ArtForum publicou o texto do artista minimalista Sol LeWitt intitulado “Parágrafos sobre a Arte Conceitual”. Nesse artigo o artista organiza as reflexões já existentes na área sobre uma arte que se desenvolve somente no campo das ideias, abandonando um pouco a materialidade da obra de arte. Podemos entender que a obra de arte conceitual exibida em uma exposição nada mais é do que um documento, um relato das reflexões do artista. Esse documento não usa a linguagem escrita, usa apenas a linguagem visual própria do artista plástico. Ao observador cabe tentar entender ou não essa reflexões.

É interessante notar que na Arte Conceitual o público é obrigado a deixar de ser apenas um observador passivo pois o entendimento da obra de arte não é mais direto. O público também é obrigado a refletir e sair da confortável situação de saber, por antecipação, avaliar se uma obra de arte é “ruim” ou “boa”. Não é mais Possível ir a uma exposição e dizer “essa paisagem está bem composta, a pintura é de qualidade”.
Questões clássicas das artes plásticas como a composição, estudo de cor e a uso da luz podem não ter sentido nenhum na arte conceitual.
Bem, se o público é chamado a ter o trabalho de pensar sobre a obra de arte para aceita-la e entende-la, o trabalho do artista também não é menos difícil.
Pensar e refletir sobre a realidade de maneira sofisticada exige do artista uma referência que muitas vezes ele não tem.
Da mesma maneira como um pintor figurativo necessita estudar profundamente a sua técnica e forma de expressão para que possa fazer, por exemplo, um retrato de qualidade o artista conceitual necessita ter um profundo conhecimento de filosofia, história, cultura e informação sobre o mundo atual e artistas contemporâneos para que possa criar “reflexões” visuais consistentes. Esse esforço é fundamental para o artista interessado na arte conceitual: não podemos esquecer que é muito comum encontrarmos artistas que se dizem conceituais mas que são incapazes de discorrer poucas linhas sobre as reflexões contidas em seu trabalho. Essa situação só leva ao descrédito de sua produção e a de toda uma área artística. É devido a essa necessidade de estudo que a maioria dos artistas conceituais vem de uma formação universitária. Muitas vezes, compelidos pela necessidade de estudo, esses artistas acabam produzindo pesquisas de mestrado e doutorado em artes.

As discussões que levaram ao surgimento da Arte Conceitual são muito antigas. Começam no trabalho de Marcel Duchamp e continuaram através da primeira metade do século XX. Na década de 60 através das idéias veiculadas pelo grupo Fluxus a Arte Conceitual torna-se um fenômeno mundial. No Brasil artistas como Artur Barrio, Baravelli, Carlos Fajardo, Cildo Meirelles, José Rezende, Mira Schendel, Tunga e Waltércio Caldas começam a desenvolver um trabalho nessa forma de expressão.

Para esclarecer um pouco mais a situação precisamos antes entender o que o termo Arte Conceitual significa.
Segundo Atkins, o termo Arte Conceitual se popularizou em 1967 depois que a revista americana ArtForum publicou o texto do artista minimalista Sol LeWitt intitulado “Parágrafos sobre a Arte Conceitual”. Nesse artigo o artista organiza as reflexões já existentes na área sobre uma arte que se desenvolve somente no campo das idéias, abandonando um pouco a materialidade da obra de arte.



Ponta Cabeça, instalação de Tunga, 1994/97


Nessa forma de expressão artística as idéias, reflexões e pensamentos do artista seriam mais importantes do que o objeto de arte em si. Como exemplo podemos dizer que na Arte Conceitual uma tela completamente coberta de tinta vermelha pode não ser mais entendida como uma pintura de cor única mas sim como um suporte das reflexões do artista: para ele talvez pintar a tela vermelha seja uma forma de refletir sobre a angústia e a violência no mundo.

Através desse exemplo podemos entender que a obra de arte conceitual exibida em uma exposição nada mais é do que um documento, um relato das reflexões do artista. Esse documento não usa a linguagem escrita, usa apenas a linguagem visual própria do artista plástico. Ao observador cabe tentar entender ou não essa reflexões.



Letras, obra de Mira Schendel e instalação de Cildo Meirelles
denominada Desvio para o Vermelho


É interessante notar que na Arte Conceitual o público é obrigado a deixar de ser apenas um observador passivo pois o entendimento da obra de arte não é mais direto. O público também é obrigado a refletir e sair da confortável situação de saber, por antecipação, avaliar se uma obra de arte é “ruim” ou “boa”. Não é mais Possível ir a uma exposição e dizer “essa paisagem está bem composta, a pintura é de qualidade”.
Questões clássicas das artes plásticas como a composição, estudo de cor e a uso da luz podem não ter sentido nenhum na arte conceitual.
Bem, se o público é chamado a ter o trabalho de pensar sobre a obra de arte para aceita-la e entende-la, o trabalho do artista também não é menos difícil.



Objeto Preenchido de Waltércio Caldas


Pensar e refletir sobre a realidade de maneira sofisticada exige do artista uma referência que muitas vezes ele não tem.
Da mesma maneira como um pintor figurativo necessita estudar profundamente a sua técnica e forma de expressão para que possa fazer, por exemplo, um retrato de qualidade o artista conceitual necessita ter um profundo conhecimento de filosofia, história, cultura e informação sobre o mundo atual e artistas contemporâneos para que possa criar “reflexões” visuais consistentes. Esse esforço é fundamental para o artista interessado na arte conceitual: não podemos esquecer que é muito comum encontrarmos artistas que se dizem conceituais mas que são incapazes de discorrer poucas linhas sobre as reflexões contidas em seu trabalho. Essa situação só leva ao descrédito de sua produção e a de toda uma área artística. É devido a essa necessidade de estudo que a maioria dos artistas conceituais vem de uma formação universitária. Muitas vezes, compelidos pela necessidade de estudo, esses artistas acabam produzindo pesquisas de mestrado e doutorado em artes.



A Janela e o Olhar, video arte de Ricardo Hage


Atualmente os artistas conceituais produzem através de várias formas de expressão artísticas: video arte, fotografia, instalação, performance, internet art e Land Art. Cada uma dessas formas de expressão leva o artista a novos desafios e muitas vezes a uma volta para as formas de expressão tradicionais das artes, como a pintura, a gravura e a escultura. Esse movimento de Inter-relação entre tradições artísticas tradicionais e contemporâneas tem muitas vezes sido chamado de Neo-Conceitualismo.

Talvez o Neo-Conceitualismo nada mais seja do que a superação das pré-concepções que tanto tem atrapalhado a livre expressão do artista plástico na atualidade, possibilitando que ele possa enfim produzir arte sem ser rotulado como acadêmico ou contemporâneo. Talvez o Neo-Conceitualismo permita que o artista seja simplesmente um artista.

A década de 70 se caracteriza pela expansão da arte conceitual, isto é, da arte como idéia, através de meios anartísticos, operando com o corpo em performances, com novos meios tecnológicos, Multimeios e uma outra modalidade espacial e fragmentada de trabalho - Instalação. Há a aplicação de novas tecnologias que se associam à operação conceitual do artista, como arte e computador. Ocorre nessa época a revitalização do pensamento de Marcel Duchamp condenando a pintura, que para ele se situava muito aquém das possibilidades criativas do ser humano. Para ele a arte é um gesto resultante de um pensar, os artistas não são fazedores de arte, mas criadores-operadores de idéias nas quais contrapõem os ready-mades como crítica desta arte mimètica da realidade dos sentidos. Duchamp condena a pintura desde o impressionismo até o abstracionismo e a arte pop, afirmando que a arte foi reduzida à matéria, cor, desenho, textura e sensibilidade; portanto, “a idéia foi reduzida ao tubo de tinta e a contemplação à sensação”. Em 1957, ante a expansão da pintura abstrata, ele escreve que “(...) hoje a pintura se vulgarizou a mais não poder(...).” Estas definições podem explicar, em parte, a recusa à pintura por parte da nova geração de artistas, a rarefação de sensações e emoções em suas obras, e a aplicação de quaisquer outros meios, que não os artísticos convencionais, mas anartísticos: ready mades, carimbos, arte postal , off-set, xerox, meios tecnológicos na elaboração dos trabalhos, que são de ordem fragmentária e hermética, cabendo ao público dar os significados.

Como vertente idealista, a arte conceitual gera “aparelhos de significados”, como Duchamp definira anteriormente os ready mades. Conseqüentemente, a materialidade da produção da arte conceitual é mínima, servindo como suporte para as proposições de idéias fomentadoras de reflexões por parte do público e de movimentações mentais lógico-perceptivas, isentas de emoções, sensações ou sensualidade. Essa arte incitava a movimentação de idéias dentro do raciocínio lógico, segundo Harold Rosenberg envolve “o repúdio à estética” e “eliminação total do objeto de arte” . Neste contexto , a arte da pintura, nos 70, passou pela maior crise de sua história, quer no plano nacional como internacional. Sua morte foi proclamada por vários artistas conceituais, que diziam que jamais suas mãos haviam tocado em um pincel, como Sol Lewitt e Ed. Rusha.

Com estas características a
arte conceitual contava com a vantagem da sedução por possibilitar outras visualidades, percepções e reflexões ilimitadas, potencializadas pelos recursos tecnológicos das mídias.
No Brasil, a conjuntura política repressiva que se instalara desde o final dos 60 e no decorrer dos 70 desarticulou os grupos de artistas, que foram expulsos dos cenários dos salões, bienais, e galerias. Na verdade, o início da década é de calmaria, ou de um “estado de espera”, como denomina Aracy Amaral, e de perda da velocidade dos ismos. Há a substituição da agitação pelas atividades de reflexão. Em 1968, Mário Pedrosa examinava a situação com ceticismo. Para ele, não existem mais vanguardas.
Nestes anos 70, as características são a reflexão, a razão e a substituição da vida pela arte. Uma arte que é sobretudo idéia e que se relaciona com o público de forma bem diferente, em comparação com a arte da década anterior. Esta participação é de ordem conceitual ou mental, que se realiza mediante as proposições dos artistas para os espectadores. É o período onde aparecem vários trabalhos em Instalação, situações arquitetadas no espaço, como os ambientes, locais, por excelência, do jogo conceitual ou mental das idéias do universo criador do artista. Uma materialização fragmentada e experimental de propostas conceituais, o visitante olha e pensa.

No Brasil, surgem vários grupos envolvidos com arte conceitual ou sobretudo arte como processo experimental, dirigida por conceitos. Como tais, estes grupos não se constituem como escolas de formação, mas como centros de artesanato conceitual, como escreve Frederico Morais em relação à Escola Brasil, em São Paulo, em 1970. De fato, este agrupamento paulista, e os que surgem mais tarde, como o grupo do On-Off, também em São Paulo, o espaço N.O (Nervo Óptico), em Porto Alegre, em 1976, e o Núcleo de Arte Contemporânea, em João Pessoa, em 1978, não atuam como escolas de Arte, mas como locais de exposição e discussão sobre a arte atual. A ênfase da produção desta arte como idéia, passa a ser dada mediante outras estratégias e linguagens que as até então conhecidas e acontecidas: performances e instalações e artes de recursos tecnológicos, que utilizam mídias que vão sendo substituídas por outras tecnologicamente mais avançadas: assim do Super 8 à videoarte; ao vídeotexto. Nessa arte de novas tecnologias, assinala-se primeira exposição internacional de arte eônica, ou arte e computador, organizada por
Waldemar Cordeiro, em São Paulo, em 1971. Um marco entre os eventos de arte e tecnologia, da década. No Brasil, como no Leste europeu e América latina, a arte conceitual se desenvolve com clara intenção política. As naturezas dos meios anartísticos e a possibilidade de fácil reprodutibilidade e a sua rede quase clandestina de distribuição permitiram em nosso país a expressão de uma arte fortemente crítica ao regime militar, o que não seria possível com os meios convencionais da pintura e da escultura. Muitas vezes essas expressões críticas se resguardavam na precariedade dos suportes, na sua grande capacidade de reprodução, como o off-set e o xerox; na instabilidade de meios eletrônicos de imagens não analógicas codificadas em sinais e sempre reproduzíveis, como vídeos; ou propostas conceituais mergulhadas na rede internacional de milhares de usuários do sistema mundial de correios, no caso da arte postal. Neste sentido a arte conceitual é altamente envolvida com o ideal de humanismo potencializador das percepções do ser humano, como defensora da liberdade de pensar, refletir e operar no campo da arte, visionária de um universalismo planetário.



ENTREVISTA COM DUCHAMP

HISTÓRIA DA ARTE-" Arte Conceitual"


E- REFERÊNCIAS


arte conceitualhttp://www.artepratica.com/especiais/page64/page64.html> ACESSO EM 02/06/2010.

arte conceitual, instalação e multimeios http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo5/multimeios.html> ACESSO EM 02/06/2010.

Entrevista com Duchamphttp://www.youtube.com/watch?v=U-p4o6p608o> ACESSO EM 02/06/2010.

http://www.youtube.com/watch?v=rwzf9YoS5wg&feature=related> ACESSO EM 02/06/2010



Um comentário:

  1. Olha, gostei muito! Eu não gosto da arte conceitual. Até hoje não sei como se ganha dinheiro com arte conceitual, Mas o seu texto me esclaresceu muito sobre este estilo de arte. Já li bastante sobre a arte conceitual, justamente para entender melhor, mas lendo o seu texto, me encontrei. Ainda acho uma arte muito ermética, erudida (para poucos). Alguns trabalhos me deram muito prazer em ver, mas na grande maioria me decepciono. Acho que, particularmente, esta arte é o culto ao diferente. Acho que depois do Romantismo, onde o homem rompeu com suas amarras com a Igreja e com o pensamento da sociedade da época, os artistas foram gradativamente se distanciando do coletivo e mergulhando cada vez mais no seu ego, nas suas reflexões, boas ou más. Hoje, neste tipo de arte, vejo artistas com pensamentos inteligentes, interessantes, ainda que de forma não direta. Mas outros, percebo uma tendência a refletir suas idéias desconexas com o mundo, onde só ele, o artista, pode explicar (ou não). O escritor Paulo Coelho revelou que seu parceiro de composição Raul Seixas disse que ele não precisava escrever de forma tão complexa. Qual é o problema em se expressar de forma mais popular? O próprio paulo admitiu que Raul o salvou de uma viagem talvez sem volta. Bom, hoje ele é o maior escritor brasileiro atualmente. Baseado nisto, a arte conceitual é uma arte egoista? Bom, existe a boa arte conceitual. Anish Kapour me fez "viajar" em alguns trabalhos seus. Já com outros artistas, só senti nojo, repulsa e dúvida... Concordo que nós fomos educados a ver a arte com sentido explícito, durante muito tempo. Eu ainda sou muito assim, na maioria das vezes. Sei que a arte reflete o pensamento do povo, em seu momento. Os textos sobre pós-modernismo estão aí para falar melhor. Mas percebo que, talez, esteja existindo um certo monopólio de tendências. Eu sinceramente não esperava que as idéias de Marcel Duchamp fossem influenciar os artistas durante tanto tempo. Em sua época ete tinha um propósito, um motivo definido. E hoje, estes motivos ainda são justificáveis? Existe um "comentário" que corre o mundo das artes diz: quem faz arte abstrata ou pinta no estilo impressionista, na verdade, não sabe desenhar ou pintar como gostaria. Ou seja, ele se adapta ao estilo que pode e não ao estilo que verdadeiramente gostaria. Passando tudo isto para o nosso tema principal, será que muitas pessoas que gostariam de fazer uma arte mais trabalhada, tecnicamete falando, passam a fazer a arte conceitual, onde "tudo pode ser explicável". Este tipo de atitude talvez justifique as obras não muito elaboradas, feitas por artistas que não estudam como deveriam ou não "conceituam" devidamente seus trabalhos. Certa vez um artista me falou que sempre que surge um espaço para expor, mesmo que ele não tenha algo pronto para participar; ele não despensa a chance. Sempre cria alguma instalação e participa. Então isto é uma arte fastfood? Amassou um copo plástico, juntou com um punhado de latas e pindurou com arames e pronto. Existem artistas que passam meses fazendo experimentos para concretizar suas idéias, e, embora muitas vezes não entendamos tudo, percebemos que tem um algo mais, um empenho visível em se expressar. Quem desejar me corrigir quanto a alguma besteira que tenha dito, fique livre para falar. Estou aqui para entender melhor esta arte. Obrigado.

    Romulo Baldez

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